CONFRARIA DOS RIO-GRANDINOS

A Confraria dos Rio-grandinos, criada em 25/06/09, é um blog de divulgação e reflexão sobre a história, a cultura e o patrimônio da cidade do Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil. Este é também um veículo de divulgação dos Papareias (naturais da cidade do Rio Grande/RS) que se destacaram ou que se destacam no cenário nacional e internacional. As imagens e os textos apresentados na sua maioria são do autor do blog e destinam-se a ilustrar idéias e valores estéticos e artísticos. Para efeitos de direitos de autoria nas postagens são sempre mencionadas as fontes. Se alguém conhecer algum impedimento à divulgação de alguma imagem ou texto agradeço que contate comigo, por e-mail, a fim de que possa proceder à sua supressão. Todas as postagens constantes neste Blog são de domínio público e podem ser copiadas sob a autorização do seu Criador. Seja mais um Confrade tornando-se Seguidor desta Confraria.

domingo, 26 de julho de 2009





Apesar de "Rio Grande - Terra de Areias e Ventos" ter sido escrito há quase 13 anos, em minha opinião, ninguém descreveu tão bem sobre a Nossa Cidade quanto a Iria. Ela retrata Rio Grande tal qual ela era em 1996. Este texto é pura poesia.

Antônio Cleber dos Santos Silva



RIO GRANDE - TERRA DE AREIAS E VENTOS

Texto de Iria Pedrazzi
(Publicado na Edição n.º 11, Outubro/96 na Revista Mares do Sul )


Com a placidez de um velho sábio, Rio Grande habita quieta uma península do Litoral Sul do Brasil. Dona de uma erudição apreendida através dos séculos orgulha-se de se apresentar como Cidade Histórica. Discreta, não costuma contar no primeiro encontro que suas terras são o berço que embalou a história administrativa do Rio Grande do Sul. Depois de sua fundação, em 1737, é que as fronteiras do sul do país, disputadas por portugueses e espanhóis, começaram a se desenhar.
Apesar do conhecimento de pretéritos, exibe uma alma jovem com movimentada rotina acadêmica e a descontração oceânica do Balneário Cassino. Na vida universitária, destaca-se pela Faculdade de Oceanografia, resultado da preocupação com as coisas do mar e das lagoas que rodeiam a região.

Mergulho no Passado
Mas aportar em Rio Grande, que abriga o único porto marítimo do Estado, é acima de tudo mergulhar no passado do Brasil. É emergir entre o antigo casario típico português, os monumentos, as igrejas seculares, as largas ruas de paralelepípedos e os museus. É descobrir que a cidade, localizada onde as águas do mar se misturam à Lagoa dos Patos, coleciona títulos estaduais e nacionais. Teve a primeira Câmara dos Vereadores do Rio Grande do Sul, criada em 16 de dezembro de 1761. A mais antiga Loja Maçônica do Estado, de 1840. A primeira Biblioteca Pública do Estado, 1846. Do Brasil, também arrebata marcas históricas imbatíveis. É a cidade do mais antigo clube de futebol do país em atividade: o Sport Club Rio Grande, fundado em 19 de julho de 1900. Em suas terras está localizada a mais antiga refinaria de petróleo do Brasil: a Ipiranga, criada em 7 de setembro de 1937.

Origem Guerreira
O ano de 1737 recém havia estreado no calendário. Até então, espanhóis e portugueses guerreavam pelo domínio de um território habitado originalmente por índios. Uma terra de ninguém, largas planícies onduladas entremeadas de lagoas varridas por um vento inclemente. No dia 19 de fevereiro, o Brigadeiro José da Silva Paes, comandante de uma expedição militar portuguesa, descobriu o local de encontro da Lagoa dos Patos com o mar e iniciou ali a construção de um forte. Seu gesto abria caminho para que os lusitanos tomassem a posse definitiva da terra e começassem a delinear a fronteira brasileira.
A construção do Forte Jesus, Maria e José e do Presídio do Rio Grande, levantado logo a seguir, deram origem a primeira povoação do Rio Grande do Sul. Nascia a vida social, política e econômica de um estado. Em 1751, o povoado foi batizado de Vila do Rio Grande de São Pedro. Antes de se tornar uma cidade, no entanto, ameaçou não fazer parte do Brasil. Os portugueses perderam o domínio em 1763 a 1776 e a vila passou a ser administrada por espanhóis. Ao Balanço do jogo geopolítico da época, falou-se castelhano em Rio Grande até 2 de abril de 1776, quando a pequena vila foi reconquistada definitivamente pelos lusitanos. Em 1835, enfim virou cidade.


Cenário Secular
Cidade histórica, Rio Grande não se perpetua apenas no passado. Estas linhas da vida conservadas nas fachadas de vários prédios e em algumas ruas, como pedaços de um cenário secular, são salpicadas pelo modernismo. Na beira da água pescadores seguem cumprindo seu ritual e vendendo peixe fresco. Meio exilado deste dia-a-dia da cidade, longe do centro está o único porto marítimo do Rio Grande do Sul, seus guindastes e caminhões. Passam por ele anualmente cerca de 11 milhões de toneladas das mais diversas mercadorias.
Com disposição para caminhar é possível conhecer a Rio Grande que ela orgulha-se de ser. Os prédios históricos se distribuem próximos uns dos outros. A visita pode começar pelo estilo barroco da Catedral de São Pedro, o mais antigo templo do Rio Grande do Sul, datado de 1755. Logo adiante, defronte do Porto Velho, fica o prédio da antiga alfândega, em um imperioso estilo neoclássico. Sua construção, inaugurada em 1879, foi ordenada por Dom Pedro II. Hoje, sedia o Museu da Cidade.
Pelas redondezas, há mais histórias em forma de coleções. O Museu da Cidade do Rio Grande – Coleção Arte Sacra exibe imagens esculpidas em madeira, vitrais, oratórios e indumentários, entre outras peças. O São Francisco de Assis vindo da Colônia de Sacramento é um dos destaques. Há também Acervo Histórico do Porto, com seus aparelhos e instrumentos topográficos utilizados na construção do porto e dos molhes da barra.

Literatura Rara
Entre os 280 mil títulos que se distribuem pela Biblioteca Rio-grandense estão 1.520 obras raras. Ali é possível percorrer através da literatura a saga deste povo amistoso e sorver um pouco de passado na própria construção em estilo neoclássico que acolhe a mais antiga biblioteca do Rio Grande do Sul, fundada em 1846.
Outra visita obrigatória para aqueles que gostam de revisitar estilos arquitetônicos de outrora é a Igreja Nossa Senhora do Carmo, com bela fachada gótica. Há os vitrais, as abobadas, as duas torres, as autênticas imagens barrocas entalhadas em madeira, com seus olhos de vidro, cabelos naturais e vestes de pano.

O Museu Oceanográfico
Não chega a ser exatamente majestoso, mas concentra bons e curiosos fragmentos das coisas do mar. É o Museu Oceanográfico de Rio Grande. Ali é possível se perder em fantasias, conhecendo um pouco dos seres que habitam as profundezas do oceano. Afinal, a cidade é conhecida por “A Noiva do Mar”.
São três salas repletas de histórias. Conchas dos vários lugares do mundo, da África e Oceania. Peixes. Planctons. Os polvos e as ostras. Os moluscos. Os crustáceos. O embrião de tubarão-martelo. A raia-elétrica. O jundiá. O pintado. A tainha. O peixe-morcego. O crânio do lobo-marinho. Os esqueletos do golfinho azul e branco, da orca, da baleia-tubarão. Mantido pela Fundação Universidade o Rio Grande, o museu é o mais completo do gênero na América Latina.
Do lado de fora, é possível aprender se divertindo. Um recanto exibe três mandíbulas de diferentes baleias servindo de bancos. Cada uma contendo uma plaquinha escrito: “Você está sentado na mandíbula da baleia-azul”. Ou franca, ou jubarte. São bancos enormes.
Mas em Rio Grande a história transcende os museus e as igrejas, invadindo as praças. Na Tamandaré, inaugurada em 1909, está o monumento-túmulo do General Bento Gonçalves, líder da Revolução Farroupilha. Na Praça Xavier Ferreira, ergue-se a Estátua da Liberdade, de 1889, e o monumento ao Brigadeiro José da Silva Paes, o fundador da cidade.

A Maior Praia do Mundo
A 18 km. Do centro está o balneário do Cassino, localizado na praia do mesmo nome. A maior praia contínua da Terra com seus 245 km de extensão.
Os molhes da barra, construídos com toneladas de pedra que invadem o mar aberto, são uma atração a parte. Seus dois braços mantêm aberto o canal de navegação, protegendo a entrada e saída dos navios. No Molhe Oeste, é possível tomar uma vagoneta, que deliciosa desliza pelos trilhos movidos à vela. Adentra o oceano em busca da linha do horizonte. A viagem é transcendental, parece infinita, mas de fato demora apenas 20 minutos e percorre uma extensão de 4 km. Desperta uma sensação de leveza ao deslizar rumo ao nada.
Partir dos molhes em direção ao Chuí – o fim do Brasil – pela beira da praia também provoca sensações de amplitude e liberdade. A luminosidade agride os olhos desprotegidos, o salitre do mar invade os pulmões. Apenas a revoada das aves migratórias e a visão de cascos naufragados batidos pelas ondas quebram a monotonia. A extensa planície, branca e despida de árvores, se perde no horizonte já uruguaio.
Mais ao sul o município ainda abriga uma ponta da encantadora Reserva Ecológica do Taim, a maior área de preservação ambiental do estado, com sua rica fauna de capivaras, lontras, preás, jacarés e uma enorme variedade de aves, como o cisne-de-pescoço-preto. Está situada entre a Lagoa da Mangueira e o Oceano Atlântico, mas visitação só é permitida depois de uma complicada burocracia junto ao Ibama.
A Fama e o Jogo
Uma das construções mais fantásticas na praia do Cassino é a do Hotel Atlântico, com sua história singular. Corria o ano de 1925. A então Vila Siqueira abrigava um cassino, no mesmo prédio onde hoje é o Hotel Atlântico. A casa colocou o balneário no circuito da fama. O jogo era popular e liberado. Os turistas vinham de longe com muito dinheiro para se deliciar com luxos e jogatina. Depois o jogo se tornou ilegal, mas o balneário já se apropriara do nome Cassino de tal forma que a Vila Siqueira desapareceu na história. Assim como os cassinos, transformados em hotéis ou ruínas.

Um comentário:

mP Miriam Pereira disse...

Cleber,
Que espetáculo este texto!
Fiquei emocionada em ver a história de minha terra descrita de forma tão poética e verdadeira.
Parabéns a Iria por este belíssimo texto e parabéns pra ti que tivesses a sensibilidade de colocá-lo na confraria. Abraços!! Miriam Pereira.